Plataforma domina as telas das TVs, transforma criadores em protagonistas de uma nova era e revoluciona a lógica do entretenimento.
Uma comédia ambientada nos bastidores de um clube de golfe, com episódios de 20 minutos e linguagem direta, parece roteiro clássico de TV — mas não está na Netflix, nem na HBO. É “Shanked”, nova aposta do YouTube que simboliza a virada da plataforma: de canal de vídeos amadores a potência na criação de conteúdo com pegada cinematográfica.
Segundo a consultoria Nielsen, o YouTube é hoje a plataforma de vídeo mais assistida nas televisões, à frente de gigantes como Netflix, Disney+ e Prime Video. Mais do que uma mudança de hábito, o crescimento vem acompanhado de uma nova lógica de produção, focada em narrativas seriadas e formatos televisivos, mas com a assinatura de criadores nativos da internet.
Influenciadores como Dhar Mann e Alan Chikin Chow têm migrado de esquetes curtas para séries com arcos dramáticos e maior tempo de tela. A ideia é clara: transformar influenciadores em protagonistas de um universo que até pouco tempo era exclusivo dos estúdios tradicionais.
“O YouTube é o espaço ideal para produções de baixo custo com grande alcance”, afirma Ryan Horrigan, da produtora London Alley, ao Business Insider. “A plataforma está priorizando conteúdos seriados — decidimos explorar esse território.”
Publicidade e influência: a nova moeda do audiovisual
A ascensão do YouTube também redesenha o mapa da publicidade. Estudo da WPP estima que os criadores movimentarão US$ 185 bilhões até 2027, superando os investimentos nas grandes redes de televisão.
Empresas como a Unilever já ajustam sua rota: metade do orçamento publicitário será direcionado a plataformas sociais, com foco em colaborações com influenciadores. E o modelo do YouTube — que destina 55% da receita publicitária aos criadores — é um grande atrativo.
Para Neal Mohan, CEO do YouTube, o diferencial da plataforma está na conexão direta entre criadores e público. “Eles constroem negócios sustentáveis aqui. Têm autonomia, acesso a dados e uma base fiel”, afirmou à Exame.
Concorrência tenta correr atrás
As plataformas tradicionais não ficaram paradas. A Amazon investiu mais de US$ 100 milhões em “Beast Games”, série com o fenômeno MrBeast, e já confirmou mais duas temporadas. A Netflix, por sua vez, firmou acordos com The Sidemen e Ms. Rachel, enquanto HBO Max e Hulu apostaram em realities com os irmãos Paul.
No entanto, muitas dessas experiências enfrentam obstáculos: falta de flexibilidade contratual, controle das propriedades intelectuais e restrições de monetização ainda afastam criadores independentes.
Já no YouTube, os influenciadores mantêm controle total sobre seus conteúdos, seus canais e os dados de audiência — um modelo mais próximo da lógica das startups do que dos estúdios de Hollywood.
Tecnologia e IA: o motor da expansão
Outro trunfo do YouTube é o uso intenso de ferramentas tecnológicas. O DreamScreen, por exemplo, permite criar vídeos a partir de ideias com apoio de IA, enquanto o áudio multitrilha facilita a publicação em múltiplos idiomas. Essas soluções ampliam o alcance global e reduzem custos de produção.
O objetivo, segundo Mohan, é consolidar o YouTube como base de uma economia criativa mais acessível, diversa e escalável. O futuro, ao que tudo indica, será cada vez mais influenciado por quem nasceu na internet — e menos pelos grandes conglomerados.
O YouTube não está apenas ocupando espaço no entretenimento global — está reformulando as regras do jogo. E na disputa por audiência, influência e inovação, Netflix que se cuide.
(Com informações da Exame.)