De Lombok à Sicília, acidentes recentes escancaram riscos negligenciados e põem em xeque protocolos de segurança no turismo de aventura.
Em todo o planeta, vulcões ativos atraem milhares de visitantes em busca de trilhas desafiadoras, paisagens dramáticas e a sensação de caminhar sobre a “força bruta” da Terra. No entanto, cada temporada de escalada confirma que esses ambientes estão entre os mais hostis do turismo de aventura: quedas em crateras, deslizamentos em encostas íngremes e erupções súbitas já causaram dezenas de mortes e resgates dramáticos na última década.
Os casos a seguir — que incluem a brasileira Juliana Marins, que despencou no Monte Rinjani, na Indonésia, em junho de 2025 — revelam padrões de comportamento de risco, dificuldades operacionais de salvamento e lições que permanecem ignoradas.
1. Tragédia no Monte Rinjani (Indonésia, 2025)
A publicitária brasileira Juliana Marins, de 26 anos, separou-se do grupo por fadiga durante a ascensão ao segundo pico mais alto da Indonésia e acabou caindo cerca de 300 m por uma encosta lisa e instável.
Ventos fortes e neblina dificultaram o acesso dos socorristas, que a localizaram viva com ajuda de drones, mas só conseguiram chegar ao local quatro dias depois, já sem sinais vitais. A família acusou falhas no protocolo de resgate e na supervisão dos guias locais, reacendendo o debate sobre a certificação de operadoras em Lombok.

2. Queda fatal em Kawah Ijen (Indonésia, 2024)
Em abril de 2024, a turista chinesa Huang Li Hong, 31, escorregou 75 m quando seu vestido se prendeu a galhos enquanto posava para fotos ao nascer do sol, próximo à icônica “Dead Forest”, às margens do lago ácido de Ijen. O corpo foi retirado após duas horas de operação, motivando o fechamento temporário do mirante e a revisão das sinalizações de perigo.
3. Desaparecimento no Monte Sibayak (Indonésia, 2017)
O alemão Klaus Wolter, 48, residente em Cingapura, sumiu em junho de 2017 após informar ao hotel que faria um “bate-volta” ao vulcão Sibayak.
O corpo foi encontrado oito dias depois, próximo a uma cachoeira, em terreno de difícil acesso que exigiu helicóptero e 150 integrantes na busca. Relatórios locais apontaram falta de rastreamento obrigatório de visitantes e trilhas mal demarcadas.
4. Erupção repentina do Monte Marapi (Indonésia, 2023)
Em 3 de dezembro de 2023, 75 montanhistas foram surpreendidos por uma coluna de cinzas de 3 km; 23 morreram por queimaduras ou quedas ao tentar fugir da cratera, e dezenas ficaram feridos.
As equipes suspenderam as buscas diversas vezes devido a explosões secundárias, expondo a fragilidade de rotas de evacuação em vulcões de acesso popular.
5. O desastre turístico de Whakaari / White Island (Nova Zelândia, 2019)
A erupção de 9 de dezembro de 2019 matou 22 dos 47 visitantes que estavam na ilha, muitos guiados até o centro da cratera sem equipamento de proteção.Julgamentos criminais em 2023–24 responsabilizaram proprietários e operadoras por não avaliarem riscos previsíveis; recursos ainda tramitam.
6. Resgate no Monte Vesúvio (Itália, 2022)
Um turista norte-americano saiu da trilha oficial para recuperar o celular perdido durante uma selfie e caiu cerca de 15 m dentro da cratera. Guias usaram cordas para retirá-lo com escoriações leves; ele poderia ter despencado outros 300 m até o fundo do cone. O episódio reforçou a necessidade de vigilância e da proibição de rotas não autorizadas no parque nacional.
7. Padrões de risco identificados
- Excesso de confiança e selfies: em Ijen e Vesúvio, vítimas aproximaram-se demais da borda para fotografar, ignorando alertas.
- Separação do grupo: Juliana Marins e Klaus Wolter foram deixados sozinhos em trechos críticos, dificultando acionamento rápido de socorro.
- Rotas mal sinalizadas: trilhas clandestinas ou degradadas dificultam resgates, como relatado em Sibayak e Rinjani.
- Ausência de EPIs: em White Island, visitantes não receberam máscaras nem trajes resistentes ao calor, o que contribuiu para a alta letalidade.
- Mudanças rápidas de atividade vulcânica: Marapi demonstrou que sensores nem sempre preveem erupções súbitas, exigindo planos de fuga imediata.
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Caminhar nas bordas de vulcões — muitas vezes marcadas por solo instável, fissuras escondidas e risco de desprendimento — representa um perigo real; um passo em falso pode significar queda fatal, exposição a gases tóxicos ou litígio em terreno que pode ceder sem aviso
8. Desafios operacionais de resgate
Operações em encostas vulcânicas combinam terreno vertical, gases tóxicos e meteorologia instável: drones e helicópteros ajudam, mas nem sempre podem operar, como no Rinjani. A logística envolve centenas de agentes, longas caminhadas, uso de cordas e, em erupções, interrupções constantes por novas explosões ou chuva de cinzas.
9. Boas práticas recomendadas
- Planejamento físico e técnico: avaliar aptidão, contratar guias certificados e checar previsões de atividade vulcânica.
- Equipamentos adequados: capacetes, luvas, lanternas, máscaras de gases e agasalhos de alta performance podem reduzir lesões em quedas ou cenários de cinza quente.
- Disciplina em grupo: jamais abandonar integrantes cansados; uso de rádios de curto alcance agiliza pedidos de socorro.
- Sinalização e fiscalização rígidas: fechar rapidamente mirantes inseguros, como a “Dead Forest” de Ijen, e multar quem invade áreas restritas, como ocorreu no Vesúvio.
Conclusão
Embora as montanhas vulcânicas ofereçam experiências únicas, elas impõem riscos que combinam altura, instabilidade geológica e imprevisibilidade climática. Os episódios compilados demonstram que a maioria das tragédias poderia ter sido evitada com planejamento, infraestrutura adequada e respeito a orientações de segurança.
Para viajantes, operadores e autoridades, o legado de Juliana Marins, Huang Li Hong, Klaus Wolter e das demais vítimas deve servir como lembrete permanente de que nenhum cenário espetacular compensa a negligência em ambientes onde a Terra ainda está em construção.